No meu acervo de gravações em vídeo, tenho uma do filme “Morte e Vida Severina” - poema de João Cabral de Melo Neto . Ao assisti-lo mais uma vez, tive a impressão de que em alguns momentos estava presente uma analogia grotesca com a nossa situação como participantes assistidos da Fundação Banorte, na pessoa da personagem principal, o retirante. A diferença mais marcante entre nós e o retirante é que ele sai de uma situação de miséria e sonho para um pesadelo e nós saímos de uma posição de pseudo-segurança para uma segurança mutilada. Lá no filme o retirante se depara com situações de extrema miséria e desilusão e nós percorremos também um longo caminho pavimentado de frustrações e quase desânimo. O retirante viveu no final da sua saga a cruel dúvida do seu fim e o confronto com a realidade da vida; no nosso caso, o desfecho foi pífio, sem escolha e duvidoso. Resta-nos como consolo penetrar nos meandros das malícias humanas e descobrir porque a botija do nosso ouro foi enterrada em terra conhecida mas não acessível. É patente que nos porões de algum lugar nós fomos vítimas, digamos, da lei do mais forte ou, quem sabe, daquele princípio existencialista que afirma o fim justificar os meios. O certo é que levamos um consentido chute no traseiro e ainda tripudiaram em cima da nossa impotente e circunstancial incapacidade de reação. A partir de agora, meus caros co-irmãos, a meta é iniciar uma segunda batalha com as armas possíveis para buscarmos os nossos direitos junto aos responsáveis , seja lá quem for, por esse desfecho melancólico no qual, como no filme, fomos protagonistas e vítimas. Sobre promessas espontâneas e gratuitamente anunciadas, lamentamos o que ocorreu com os nossos valorosos e competentes ex-funcionários da Fundação, vítimas circunstanciais de uma gangorra de promessas não cumpridas, incluindo-se aí a que foi feita ao último e competentíssimo interventor, o Dr. Nelson Prawucki. A eles a nossa gratidão pelo empenho que sempre demonstraram no trato das coisas da nossa Fundação. Quanto a nós, resta-nos a prática da esperança que jamais morrerá.