O anzol só existe por causa do peixe. Até aí, nada de relevante, se não fosse a isca. O peixe só é fisgado porque acredita que a isca é uma oferta da natureza. Portanto, o peixe é vítima de sua boa fé. Está aí um cenário típico do que acontece nas sociedades ditas civilizadas. E a palavra chave é “acreditar “. Alguém poderá raciocinar que está faltando um personagem nesta peça; e está mesmo, o pescador. O peixe não tem malícia; a isca está na cena de bobeira; o anzol é um instrumento. Pois é! A malícia é do pescador, o personagem que faltava aqui. O pescador quando planeja sua pescaria, reúne os apetrechos necessários e não pode esquecer nenhum, principalmente a isca; peixe não lambe anzol. Uma conclusão parcial e lógica é que o produto da pescaria é resultado de um ardil. Coitados dos peixes; primeiro, enganam-se com a isca; segundo, não sabem o que é anzol e, por fim, não conhecem as intenções do pescador. Como se depreende, o problema do peixe é que ele sabe que a isca é comestível; o que o peixe não sabe é como aquela isca chegou até ali. Vejam bem, não estou contando aqui história de pescador; estou narrando a saga do peixe. O peixe está sempre fadado a entrar numa fria, exceto quando chega na panela. Apesar de tudo, o peixe tem o seu momento de glória e quase sempre bem longe do pescador a quem deve parte dessa glória. Mas nem tanto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário