Comecemos fazendo uma diferença entre “sem vergonha” e “sem-vergonha”. Claro que vamos nos ater à primeira expressão. Nas estatísticas de classes sociais é feita uma hierarquia com critérios metodológicos adotados em pesquisas, que resultam em rótulos; daí, pobres e miseráveis. O interessante disso é que de pronto relaciona-se pobre à fome, à falta de instrução e à marginalidade. São rótulos que a sociedade impõe de cima para baixo, desconhecendo e ultrajando essa grande parcela da população estigmatizada e alienada. A expressão “isso é coisa de pobre” é um deboche ofensivo tanto quanto é discriminatório. Ser taxado de pobre parece ser o selo da infelicidade, da falta de sorte e da falta de brio, como se não houvesse honradez e virtudes na pobreza.
Os pobres deixam de comer para pagar os seus carnês; e como se esforçam para isso! Entre os pobres o sentimento de gratidão e a prática da partilha são uma de suas marcas registradas. O pobre que recebe uma cesta básica não pensa duas vezes antes de decidir reparti-la com o seu vizinho necessitado. A sociedade associa a pobreza à fome, mas não se toca quando acha que pobre só tem fome em época de Natal e que as doações de alimentos nessa época encobrem a sua hipocrisia. Gente, pobre tem fome nas 52 semanas do ano e não apenas pelo Natal.
Ainda mais, pobre não tem vergonha de sua situação; na pobreza existe honradez, muita garra e criatividade. O pobre cultiva o respeito pelas pessoas; é grato aos seus benfeitores e manifesta de várias formas a sua alegria de viver. Portanto, “coisa de pobre” não merece deboche, merece respeito.
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