segunda-feira, 31 de dezembro de 2001


ANIVERSÁRIO DO JORNAL

Com esta edição de Agosto, o nosso jornal completa 6 anos de existência ininterrupta. Começou modesto e muito simples. Alguns colegas dispuseram-se a colaborar, não foram muitos, mas alguma coisa foi feita nesse sentido. Não faltaram os apelos; é sempre muito difícil convencer alguém a escrever o que pensa para ser distribuído com os colegas. Sempre se fica com um pé atrás nessas horas. Dar um grito solitário no meio da multidão, não é fácil, a menos que toda a multidão grite ao mesmo tempo. O nosso jornal continuará a sua luta. Agora, com novo visual está a nos convidar para que essa chama continue a brilhar e que daqui para frente colaborações não faltem. Temos uma nova editoria, graças à intervenção do nosso colega Isaltino que com os seus conhecimentos jornalísticos dará ao nosso jornal uma feição profissional, como já puderam observar. De minha parte, continuarei com a coordenação do material a ser editado, o que farei com o zelo e a dedicação a que me propus.

O TROFÉU ROUBADO




Certo dia disseram a um grupo de  trabalhadores dedicados que eles poderi-am, quando de suas aposentadorias, ter uma qualidade de vida decente, vivendo uma tranqüilidade almejada por todos e por poucos alcançada àquela altura. Não era um sonho, e até muitos não entenderam bem o espírito da coisa.
Passaram-se os anos e tudo parecia correr às mil maravilhas, pois al-guns já desfrutavam do prometido, o que era um atestado do que antes lhes havia sido dito. Entusiasmo no trabalho, não faltou; argumentos para tanta euforia eram abundantes; a perspectiva de uma aposentadoria tranqüila e uma qualidade de vida decente, fascinava. Ninguém desconfiava de que “ dia de muito, véspera de pouco” não era apenas um provérbio, mas uma sentença. Não demorou, e o que era espe-rança, tornou-se desespero, intranqüilidade,  fantasma; tudo mudou e o que era sonho transformou-se em pesadelo; a almejada qualidade de vida decente era ape-nas uma quimera, uma utopia, talvez.
O pior de tudo isso é saber, é estar consciente, de que em nenhum momento se concorreu para esse estado de coisas. Recebemos, como se diz popu-larmente, um chute na canela; e que chute !
Aquele grupo de que falamos no início, continua coeso, mas em torno das suas incertezas,  desiludido das promessas que lhe fizeram há vinte e tantos anos atrás. Promessa de qualidade de vida decente tornou-se uma excrescência. O que vai sobrar de tudo isso é a certeza de que o trabalhador é  um herói das bata-lhas da vida, só que o troféu da vitória lhe é roubado ainda no pódio.

II  -  Trapos e sarjeta

Estamos todos reféns das especulações das leis e regulamentos e pior, das interpretações. Agora, estamos assistindo  às execuções, não pela forca, mas pelo bolso que, aliás, é a parte mais sensível do corpo humano e , por isso mesmo pior, porque vai matar devagar, devagarinho, como canta o sambista. É triste, muito tris-te, constatar que tudo isso acontece pela incúria e pelas decisões verticais tomadas à revelia dos participantes ludibriados e agora humilhados. Causa-nos vergonha ser tratados como tendo praticado dolo, fraude, emitido declaração falsa, ou outro crime afim, quando na realidade fomos e somos vítimas da vaidade e das manobras que culminaram com tudo o que aí está.
Defesa, argumentos, não são aceitos. Em nome da lei e de um regulamento capcioso, somos jogados na sarjeta, como trapos, como criaturas que se locupleta-ram da Fundação, como foi dito em carta enviada a grande parte dos nossos cole-gas, enquadrados em processo administrativo instaurado por um dos Interventores na Fundação. Pena que direito adquirido e injustiça signifiquem a mesma coisa nessas horas. Estamos diante de uma herança maldita que fomos levados a julgar ser o horizonte brilhante das nossas vidas. Puro engano. Estamos sendo tratados como lixo, sem direito a reciclagem. Lixo sim, porque estamos sendo condenados ao abandono, às moscas, sem nenhuma consideração por quem tem a obrigação legal de nos proteger. Estamos sendo jogados à própria sorte, sem rumo, sem dire-ção, sem oportunidade de recuperação.
Certa vez, há muitos anos passados, um líder sindical rebatendo as críticas patronais de que a classe que ele representava vivia bem, porque andava de paletó e gravata e morava em apartamento, desabafou: não sabem eles, os patrões,  que a gravata nos enforca e a nosso apartamento é a antecipação do nosso túmulo. Não é diferente a situação para a qual  estão nos empurrando. Com as nossas desculpas pelo humor negro, por pouco, o tal  artigo do Regulamento, o 23, não nos estigmati-zou com a marca do ridículo. Também assim, seria demais.

POÇO DE MALDADES


Temos um regulamento que atropela as nossas vidas desde a sua implantação em Agosto de 1991. Tudo o que tem acontecido de negativo em nossa Fundação é justificado, sempre, como  em concordância com o regulamento e a legislação vigente. A julgar pelos processos administrativos em que estão envolvidos todos os participantes da Fundação, este Regulamento de 1991 tem sido um desastre generalizado. Isto nos faz pensar que este malfadado regulamento, aprovado diga-se de passagem, pelo Conselho de Curadores da Fundação e pela Secretaria da Previdência Complementar do Ministério da Previdência e Assistência Social, e não pelos participantes, é, na verdade, um poço de maldades. E a responsabilidade por tudo isso, de quem é ? Jamais teremos uma resposta, haja vista o que aconteceu com outras indagações feitas neste nosso jornal. Em relação a nós participantes, de acordo com a Lei, temos o direito de conhecer o exato texto deste regulamento. O regulamento de 1991 conhecemos, porque todos nós o recebemos. Mas, as alterações introduzidas nele no segundo semestre  de 2000, não são do nosso conhecimento; não foram informadas oficialmente aos participantes conforme preceitua a Lei. Essas alterações não podem ser desconhecidas dos participantes por menores que sejam elas. Soubemos que uma das tarefas do novo interventor que está à frente da Fundação desde dezembro de 2001 é fazer uma auditoria no Regulamento em vigor, o que consideramos uma decisão acertada. Aliás, esta providência deveria ter sido tomada antes mesmo da desastrada auditoria nos benefícios individuais. Desastrada por falta de credibilidade, uma vez que a segunda foi feita por discordar da primeira; e se fosse feita uma terceira, hein ! Desastrada no sentido de ter transtornado a vida dos nossos colegas aposentados e pensionistas já tão cheia de problemas financeiros decorrentes da falta de correção dos seus benefícios desde que foi implantada a intervenção em junho de 1996; desastrada também no sentido de ter provocado um desgaste emocional em todos nós que temos responsabilidades  diante das nossas famílias. Enfim, por conta de tudo isso, temos amargado um desgaste da nossa qualidade de vida, cuja manutenção, tão prometida quando da criação da Fundação, foi para o  brejo. O que era esperança de continuidade de padrão de vida, virou utopia. Que maldade, hein !