terça-feira, 18 de fevereiro de 2003

SACO SEM FUNDO




Virou moda, ultimamente, a promoção de passeatas, caminhadas e outros eventos, pela paz. Só que há um equívoco no móvel  destas iniciativas. A opinião pública confunde conseqüência com causa. Melhor dizendo, quer eliminar a conseqüência (pobreza, miséria, violência) sem combater a única causa, a injustiça. Outro equívoco é associar a consecução da  paz à eliminação da violência. Esquecem-se simplesmente da justiça. E não se trata aqui de justiça relacionada ao judiciário. O clamor pela paz deve ser associado ao pedido por justiça social. A paz é uma conseqüência do reinado da justiça. E, neste contexto, justiça é a ação distributiva do Estado, concorrendo para corrigir as desigualdades sociais. A paz é fruto da justiça. Em havendo justiça social a paz estará garantida. A partir do momento em que  isto seja entendido pela sociedade e pelo poder público a paz reinará entre nós. A primazia do grito, portanto,  não deve ser pela paz e sim pelo banimento da injustiça social; a paz virá em conseqüência, sem grito, sem passeatas. A dificuldade, portanto,  está no reinado da justiça. A concentração de renda, de riquezas, gera pobreza, miséria e numa grandeza muito maior do que a do acúmulo. Há um pensamento atribuído a Santo Antônio que diz o seguinte: riqueza é como estrume, acumulado cheira mal; espalhado gera vida. A segunda parte desta formula resolveria o problema, com certeza. Outra abordagem é sobre a tal campanha de “ fome zero “. Vejam só o quanto de oportunismo há nessa campanha. Encher a barriga dos pobres (entenda-se miseráveis) é muitíssimo mais fácil do que promover ações na direção do saneamento básico e saúde. Tá na cara, como se diz popularmente. Saneamento e saúde só se resolve com muito dinheiro e tempo e tem um ingrediente negativo para os políticos, é obra que se enterra, fica no subsolo, não recebe placa comemorativa, diferentemente de pontes, viadutos e distribuição de comida e outros subsídios eleitoreiros. Numa entrevista recente o bispo de Duque de Caxias, Rio de Janeiro, D. Mauro Morelli,  falou que não adianta encher o estômago e continuar bebendo água contaminada. E, também, acrescento, estar de estômago cheio, cheirando a trampa que escorre a céu aberto ao lado do barraco, também não combina. Só que a melhor urna eleitoral não é a eletrônica, é o estômago. O temor é que a partir do “ fome zero “ forme-se neste país uma geração que vai se pautar pelo receber sem dar nada em troca. Ou melhor, direito sem deveres. É, sem dúvida, o assistencialismo século 21. Esta nova bandeira é igual à do combate à seca; quanto pior para o povo, melhor para os políticos que sempre vão ter o que prometer.  Em termos de dinheiro do contribuinte, isso se chama saco sem fundo. E estômago, todos sabem,  a cada 6 horas, fica vazio. Que Deus me perdoe, mas isto me traz à lembrança Miguel de Cervantes, aquele que escreveu o “Dom Quixote de la Mancha “ o Cavaleiro da Triste Figura. Francamente, não é isso que desejo, e é o que peço a Deus não aconteça. 





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